Depois de apresentar um belo cartão de visitas com “Reino Animal”, o retorno às telas do diretor David Michôd era bastante aguardado. O primeiro filme do australiano colecionou prêmios por onde passou, sendo inclusive um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2011. Se em “Reino Animal” o diretor apresentava um thriller de crimes angustiante, com diversos personagens e conflitos, seu retorno às telas se dá de forma um pouco diferente. “The Rover” se passa em um futuro próximo, após um colapso financeiro global, situando-se no deserto australiano. A angústia do primeiro filme, de se viver entre quatro paredes onde não parecia haver segurança, dá lugar à tensão de se viver em um mundo vazio e sem leis.
Logo de início é possível perceber fortes referências ao gênero western, não apenas no cenário árido ou no fotografia que explora a linha do horizonte, se enchendo de vazio, mas também na construção de um protagonista de quem não conhecemos nem o nome e nem o passado, e que transborda virilidade. O filme porém não se satisfaz como um neo-western e passeia entre gêneros, há um pouco de road-movie, um pouco de um futurismo árido que faz lembrar “Mad Max” (ainda que muito mais contido), e termina por construir seu próprio caminho e identidade.
Sem abusar da trilha sonora, explorando silêncios, o filme constrói sequências muito boas. Seja a de uma perseguição onde a velocidade não é o mais importante e a tensão se instaura justamente por, tanto nós quanto parte dos envolvidos, não sabermos as motivações dos atos nela praticados. Seja em um quarto de hotel onde o inesperado se constrói em cima da insegurança de um personagem.
Um filme com poucos personagens e poucas falas depende muito de boas atuações para manter sua força. Guy Pearce dá conta do recado com uma atuação contida e pontual, mas quem realmente chama a atenção é Robert Pattinson. O jovem ator tornou-se um ídolo teen com suas atuações em filmes adolescentes. Assim como Leonardo di Caprio e Brad Pitt no início de suas carreiras, teve sua atuação posta à prova, em detrimento de sua beleza. Estrelou um filme de David Cronenberg, em um papel que abusava da falta de expressão que os tempos de vampiro lhe deram como uma marca registrada. Mas em “The Rover” teve finalmente a chance de mostrar seu talento na atuação em um personagem bastante diferente do que estava acostumado. Pattinson poderia apenas ter uma atuação segura, mas foi além, e correndo o risco de ser caricatural, mostrou que é muito mais que um rostinho bonito, na melhor atuação de sua vida. Há inclusive uma cena que parece estar no filme como um presente do diretor para Pattinson, onde seu personagem ouve uma música e cantarola o refrão junto com o rádio: “Don’t hit me cause I’m beautiful”.
Entre poeira, tiros e sangue, o filme constrói seu caminho, estudando a degradação do ser humano, refém de suas inseguranças e que, no vazio, alcança seus objetivos nas pequenas coisas, afinal é preciso um norte para se mirar. O final faz conhecermos parte dos porquês do filme, mas nem precisaria ser tão literal, posto que é justamente nas pontas soltas que reside boa parte da força do filme.
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