24 julho 2012

Scans e transcrição de On The Road e Kristen na Vogue Brasil!


Fala-se de Cinema

Estrada em transe

Livro que definiu os ideais libertários de uma geração, On The Road chega às telas em versão de Walter Salles e mostra que o movimento beat ainda tem eco até a moda atual.

Em apenas três semanas, Jack Kerouac escreveu o livro que marcaria toda uma geração que, entediada pelo pós-guerra, estava à procura de um propósito para a vida. Lançado em 1957, seu On The Road finalmente chega ao cinema pelas lentes do brasileiro Walter Salles, depois de quase três décadas trocando de mãos. A história dos amigos que cruzam os Estados Unidos (de Nova York a São Francisco, passando por Denver) em busca de um sentido para sua existência logo se tornou um mito da chamada geração beat ao expor a liberdade sexual, o uso de drogas, o interesse pelas religiões orientais e pela vida nômade, tudo ao som de muito jazz – semeando a revolução cultural que se concretizaria na década seguinte.
Apesar das críticas negativas em Cannes, onde foi apresentado pela primeira vez no mês passado, o filme é intenso como a vida daqueles jovens. A atmosfera eletrizante e transgressora do sax de Charlie Parker, das pinceladas de Jackson Pollock e da própria narrativa improvisada e frenética de Kerouac é traduzida por cenas douradas e corpos suados (exalando sexo) embalados pelo bebop e os efeitos da benzedrina no café. “Os protagonistas viviam à flor da pele, à procura de diferentes formas de liberdade e vivenciando cada momento como se fosse o último. Assim, muitas cenas foram filmadas com jazz tocando no volume máximo e isso acabou entrando pelos poros dos atores. Como a câmera está colada aos corpos, existe um constante desejo de verter essa sensibilidade para o filme”, esclarece o diretor àVogue. Ao fim da sessão, é inevitável a impressão de ter saído de um transe. A estrada acabou e, junto com ela, a vida intensa e inconsequente. É hora de crescer, caros “hipsters destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca de uma dose violenta de qualquer coisa” – como Ginsberg define a própria geração no poema beat O Uivo.

Ícones do movimento

O poeta melancólico Allen Ginsberg (1926-1997) amava o bom-vivant Neal Cassady (1926-1968), que amava o escritor Jack Kerouac (1922-1969), mas vivia entre as camas de Carolyn e LuAnne. Todos adoravam café com benzedrina, sexo e jazz. Filhos de imigrantes, os personagens-ícone da geração beat fizeram de tudo pelas estradas americanas. Ginsberg conheceu o sucesso com o poema em prosa O Uivo, Kerouac transformou aquelas experiências em bíblia de uma geração, e Cassady seguiu viajando.

Descubra o bairro beat de São Francisco

O Diretor Walter Salles ensina a andar por North Beach

“São Francisco é o último reduto beat. O The Beat Museum (540 Broadway) é parada obrigatória para quem quer ouvir poesia de verdade. Todos os livros escritos por essa geração estão por lá, vários autografados pelos autores. Cruzando a rua fica a Jack Kerouac Alley, o bar onde toda essa turma se encontrava. Logo ao lado fica a livraria mais incrível dos Estados Unidos, a City Lights (261 Columbus Avenue), criada pelo poeta Lawrence Ferlinghetti. Nas parede, fotos que marcaram a vida boêmia da cidade e algumas das frases que definem o lugar, como ‘Read a fucking book!’.” No fim da jornada, tome um expresso no Caffè Trieste (601 Vallejo Street).

Moda

O look mendigo da garota beat virou habitué das passarelas: jeans e couro, camiseta podrinha, tricôs oversized e tecidos naturais. Pronta para cair na estrada, ela precisa de muitos bolsos e sapatos pesados. Sua bolsa é a hobo: mole e espaçosa, como a dos vagabundos que cruzam as EUA clandestinos em trens.

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