Autora(o): Kelly Domingos - Whatsername no Nyah!
Gênero: Angst, Romance, Universo Alternativo, Hentai, Drama
Censura: +18
Categorias: Saga Crepúsculo
Avisos: Álcool, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo
Covardes vão para o inferno.
POV Edward
Existia uma
grande diferença entre ouvir um eu amo você vindo de meus pais e um dito pela
mulher que eu amava. Fora doce e sofrido, as palavras de Bella ecoavam em minha
mente. Eu me lembrava dos olhos marejados, um reflexo dos meus. Ninguém
tinha sido tão direto comigo, eu gostava disto em Bella, o jeito que ela
deixava transbordar suas emoções, fossem elas simples, ou demasiadas complexas.
Eu a amava
com todas as forças, embora eu fosse covarde para admitir, eu sabia que eu a
amava, de um jeito que não era igual ao que eu sentia por meus pais. Era
amor de verdade, entre um homem e uma mulher, em que há cumplicidade, proteção,
lealdade. Ouvir aquelas três bonitas palavras tinha feito meu coração vir à
boca, e me deixar completamente feliz. Feliz como nunca.
A
felicidade se misturava a outros sentimentos, eu a queria, mas eu sabia que não
poderia tê-la daquela forma. Os flashes dos últimos acontecimentos
surgiam gradativamente, eu bebendo como um louco naquela boate, não era o lugar
ideal, mas ele me lembrava a Bella. Depois, meu dia de merda na corporação, e,
por último, eu encostado-se àquela porta e a pergunta.
Era a pergunta mais fácil de ser respondida, mas era melhor Bella ficar
sem ela. Eu pude ver os grandes olhos marrons despencando à medida que
minhas palavras não saiam. Eu não gostava das lágrimas que escorreram pelas
bochechas coradas, era quase o retrato da decepção. Decepcionada comigo. Quando o vôo para Chicago
foi anunciado, saquei minha bolsa que estava na poltrona ao lado. Eu não
gostava de aviões, muito medo para ser sincero. Eu me sentia absurdamente
lento, os analgésicos por causa da dor de cabeça interminável ainda corriam
dentro de mim.
O saguão
estava cheio de pessoas, eu não olhava para nenhuma delas. A poltrona
acolchoada foi um alívio para meus músculos, o avião preparou-se para decolar
e, conseqüentemente, minha testa suou e suou. As longas duas horas demoraram a
passar, obviamente. Estar em Chicago era estranho, de um jeito ruim. Meu
rosto cansado avivou-se quando eu sorri lembrando-me de minha viagem com Bella
para casa de meus pais, tinha sido tão surreal aquele fim de semana, o jeito
que ela dirigiu meu carro, a empatia que ela teve por minha casa. Tudo, tudo me
fazia sorrir e me lamentar.
O
desembarque em O’Hare foi completamente mecânico, quando me dei conta que
estava sem meu carro, peguei o celular em meu bolso, eu praguejei baixo ao ver
o nível de bateria.
“Mãe?” Falei, minha voz saiu rouca e, talvez, incerta.
“Oi Edward!” A resposta saiu enérgica, não o suficiente para
melhorar meu humor.
“Uh, acabei
de chegar, você pode me buscar no aeroporto?” Perguntei ainda com a voz
estranha. Eu sabia que Esme já estava roendo as unhas por causa de minha
aparição repentina.
“Edward,
por que você está em Chicago? Por que não nos avisou? Bella está com
você?” As perguntas vieram como um pequeno bombardeio. Eu encostei-me a uma
pilastra para encontrar equilíbrio.
“Mãe,
apenas me leve para casa, por favor.” Falei abafado, meus olhos
queimaram por causa da umidade e eu desliguei sem esperar algum tipo de
réplica.
Ao ver o
carro preto estacionando de qualquer jeito, meu peito esquentou e vibrou, a
presença de Esme me acalmaria até no inferno. Minha mãe bateu a porta também de
qualquer jeito, os olhos claros fuzilaram os meus. E então ela me abraçou, tão forte que fiquei
assustado. Esme murmurou algo baixo demais, meus braços enlaçaram-lhe as
costas. E quando ela me olhou diretamente, ela percebeu que eu estava fodidamente
quebrado. Em cacos.
“O que há
com você, filho?” A voz que sempre fora calma saiu absurdamente cortada
e nervosa, os olhos marejaram.
A sensação
de estar estragando tudo me atingiu violentamente. Estragando a vida de
Bella, deixar minha mãe preocupada, fazendo todos ficaram tristes.
Eu sorri
completamente sem vontade. “Eu estraguei tudo, mãe. Tudo.”
Talvez Esme
tivesse entendido meu ponto, pois ela não disse mais nada. O percurso
até minha casa foi estritamente silencioso. Minha mãe me pegava fungando às
vezes, eu não sabia por que ou por quem eu realmente chorava.
“Seu pai
ainda não chegou.” Minha disse assim que passamos pela porta, o sofá
parecia o melhor lugar para eu desmontar.
Minha
cabeça pendeu para trás, senti todos os nódulos de tensão protestando. Tão
calmamente, Esme dedilhou meus cabelos. “Edward, eu preciso saber o que aconteceu.”
Fiquei sem
respondê-la, afinal era tanta coisa para ser esclarecida. Eu não sabia
por onde começar. Cerrei meus olhos, e, em alguma hora, dormi.
Não foi um
sono revigorante, acordei ainda no sofá. O relógio de parede marcava
mais de meia-noite. Subi para meu quarto, era bom estar nele. Tomei o banho
mais mal tomado de minha vida e apaguei de novo. Melhor que estar em meu
quarto, era estar sempre dormindo. Era um ótimo refúgio da realidade.
(...)
Era nostálgico, apenas. Eu sentia as mãos correndo por
minhas costas e, às vezes, por meus cabelos. A canção de ninar soava baixo. A
presença de meu pai era discreta, ele enrolou meu cabelo em seus dedos e depois
sorriu. Meus pais sabiam que eu não estava bem, era sabido também que eles
estavam apreensivos e preocupados.
“Eu me
sinto como um garoto de oito anos.” Falei apenas para eles ficarem
cientes que eu acordara.
Ambos
riram, embora eu ainda sentisse o clima denso. “Isso me lembra quando
Tedy morreu.” Meu pai disse baixinho, alguma coisa diferente em sua fala soou
desconhecida.
Lembrei-me
de Tedy, o filhote de labrador. A pelagem preta que chegava a brilhar, sim,
cachorros eram inteligentes e o meu era o mais esperto de todos. Sorri quando
me lembrei o quão difícil foi ter aquele bichinho de estimação. Meus pais
tinham relutado, mas, depois de muita insistência, o bichano corria e destruía
a mobília de casa. Eu tinha exatamente oito anos, as imagens eram embaçadas,
ponderei sobre eu começar a ficar sem memória. E quando eu o encontrei morto
perto do pé de maçã, meu mundo pareceu desmoronar. O filhote tinha duas marcas
na cabeça, pareciam feitas com pedras ou madeiras. Eu demorei um tempo para
perdoar os vizinhos sem coração, tudo bem que Tedy latia demais, mas, oras,
cachorros latem, porra.
“Nós nunca
mais tivemos cachorros.” Falei e me virei para eles, eu encontrei dois
pares de olhos me encarando docemente.
O quarto
tornou-se silencioso. Nós nos olhávamos, eu queria falar tudo, eu só
precisava de um empurrão. Esme
pairava seu olhar de anjo sobre mim enquanto meu pai analisava minhas poucas
reações. Eu deveria admitir, nada era
mais apaziguador que ter meus pais por perto. Eu não estava sentindo
falta de nada. Nada mesmo. Bella estava em minha cabeça, mas eu não queria que
ela presenciasse aquela situação. E mesmo estando em família, também não senti falta
de Sebastian. E isso era, de algum modo torto, perturbador.
Ergui meu
corpo para ficar sentado na cama, meus pais estavam sentados ao meu lado. Carlisle
caia um pouco.
“Eu me
sinto um pouco cego.” Falei e esfreguei meus olhos, os óculos estavam em
algum lugar que eu não me lembrava.
Rapidamente,
eles foram colocados em meu colo. Esme desamassou meu rosto. “Quer
conversar, Edward?”
Eu fechei
meus olhos antes de acenar positivamente. Eu ignorei o pequeno queimor
em meus olhos, era estranho a umidade causar ardência. “Eu fodi com tudo, mãe.”
Esme
acarinhou minha bochecha, mas não disse nada e então eu continuei. “Eu a
amo, mãe. Eu amo Bella mais que tudo, chega a doer de um jeito bom, é como se
não fosse caber em meu peito.” Falei
e não me importei por estar chorando tão desesperadamente, valia a pena chorar
por ela. Por um breve instante abri meus olhos, meus pais tinham os olhos
brilhando. Eu poderia presumir que eles estavam completamente felizes.
“Fale isso para ela.” Meu pai disse calmamente, aquilo não
parecia muito óbvio saindo pelos lábios dele.
“Não é tão
fácil, eu não a mereço.” Falei cortado, embora aquela premissa já
fizesse parte de qualquer pensamento meu.
“Edward,
seja sincero conosco, nós somos seus pais.” Esme disse baixo, os olhos
tinham uma seriedade assustadora.
Era
vergonhoso dizer tudo, externar o porquê de eu ter ido para Nova Iorque, aquela
carta. A última me causava mais medo. Eu tinha trazido-a, mesmo não
sabendo como abordá-la.
“Vocês vão me odiar.” Minha voz saiu embargada novamente.
Minha mãe
ergueu meu rosto, os dedos pastaram para secar minhas lágrimas. “Nós jamais te
odiaríamos, nunca Edward, não existe essa hipótese.”
As palavras
me encorajaram, preferi começar do fim. “Uh, nós fomos para a cama.” Era
completamente desnecessário dizer aquilo, meu rosto esquentou minimamente.
Ninguém
disse nada, agradeci por aquilo. “E então eu fui canalha o suficiente
para deixá-la.”
Esme me
olhou complacente, mas eu sabia que ela estava decepcionada comigo. “Não
me olhe desse jeito, mãe.”
“Edward,
você sabe o quão quebrada Bella está agora, certo?” Meu pai foi o
primeiro a se pronunciar.
“Eu sei
exatamente como ela está.” Lembrei-me dos olhos marejados, o beijo
sofrido.
Por um
momento imaginei o que aconteceria se eu contasse tudo, tinha merda muito pior
que aquela, muito pior mesmo. E então eu decidi contar tudo.
“Eu
realmente gosto dela, sei lá, é uma vontade absurda de proteger, de amá-la sem
restrições.” Falar aquelas coisas me fazia bem, era uma maneira de me
lembrar de Bella.
“Você não
sabe o quanto eu fico feliz em ouvir isto, eu pensei que você nunca abriria os
olhos!” Esme me abraçou, as mãos afagaram meus cabelos embolados.
“Uh, ela
também disse que gosta de mim!” Eu disse sorrindo, era difícil usar a
palavra ama.
“Eu ainda
não entendo o porquê de você está complicando tudo.” Carlisle disse pensativo,
eu tremi por antecipação.
“Tem algo
que eu preciso contar a vocês.” Minha voz falhou miseravelmente, a
lágrima salgada ardeu quando tocou meu lábio ressecado.
“Conte-nos.” Meu pai disse ainda sem inflexão.
Puxei todo
o ar, até preencher toda a capacidade de meus pulmões. “Eu não fui para
Nova Iorque por causa da transferência, uh, eu pedi para ser transferido.”
Esme
assentiu timidamente, um dia eu ainda eu iria descobrir como as mães descobrem
tudo sobre seus filhos. “E isso tem a ver com Bella.” Ela não perguntou,
saiu completamente certo.
“E com Sebastian.” Saiu abafado, não ousei olhar para nenhum
dos dois.
Um silêncio
desconhecido preencheu o quarto. Meus pais se olharam, mil palavras
foram trocadas sem efetivamente uma sílaba ser dita. Meu peito torceu me
causando dor. Senti cada parte meu corpo sendo esmagada por aquele silêncio.
“O que ele
fez com ela?” Esme perguntou apreensiva, eu via a tristeza escorrendo
pelos olhos claros.
Puxei mais
uma respiração e sai da cama, a carta estava perfeitamente dobrada em um dos
bolsos da mochila. Dobrei-a ainda mais, voltei para cama, mas não
escorreguei para debaixo do cobertor.
Olhei para
os meus pais por uma fração de tempo, eu sabia que todas as respostas seriam
dadas dentro de instantes. E, por incrível que pareça, aquilo não me
atiçou. Minha intuição, que eu desconhecia até aquele momento, dizia que eu
odiaria saber a verdade sobre meu irmão.
“Ele
destruiu a vida de Bella.” Falei baixinho, as lembranças vieram com
tudo. Ela me contando o que ele tinha feito com ela, cada marca, cada dor, cada
pedaço que ele usurpou.
“Edward, me diga tudo.” A voz de minha mãe saiu dura, quase
impaciente. O semblante denunciava uma pontada de medo.
Não me
importei em expor Bella daquele jeito, meus pais a adoravam, aquela história já
não era só dela. “Sebastian esteve esse tempo todo em Nova Iorque.”
A
informação pegou meus pais de surpresa, os olhos de Carlisle prenderam aos de
minha mãe. Uma lágrima tímida desceu pelo rosto de Esme. O que me fez
chorar um pouco mais.
“Ele
conheceu Bella e começaram a namorar.” Eu não era bom com detalhes, mas
tentei deixar aquilo bem claro.
“Bella
ainda era uma menina!” Carlisle disse enfático, talvez, exasperado.
Eu não
disse nada, apenas continuei. “Os dois não se davam muito bem, Bella
sempre quis terminar, mas ele era um tanto possessivo.”
Era difícil
começar narrar aquilo que eu não entendia, o que não fazia sentido. O
estupro, o assassinato de Charlie e Renée, eu ainda queria acreditar que meu
irmão nunca seria capaz de comentar tais atrocidades.
“Edward,
não nos esconda nada, por favor!” Minha mãe pediu e me puxou para seu
colo, as unhas curtas traçaram um padrão em meu couro cabeludo.
“Mãe, eu
não consigo acreditar que ele possa ter feito que ele fez, eu simplesmente não
posso.” As duas lembranças vieram juntas, Bella e Sebastian.
Carlisle
nem Esme disseram nada, eles me olhavam aflitos. “Ele abusou dela.”
Falei sendo completamente eufemista, decidi poupar meus pais dos detalhes.
Quando
ouvir um gemido baixo, olhei para o rosto de minha mãe. O choro era
sofrido e contido, Carlisle também tinha um tanto de emoções em seus olhos. Eu fiquei feliz quando ele secou o
rosto de minha mãe.
“Não é culpa sua.” Meu pai disse baixinho para minha mãe,
mas alto o suficiente para eu ouvir.
Guardei
aquela fala, sequei também os meus olhos sem saber como continuar. Dentro
de mim, nada era pior que saber que meu irmão tinha tirado os pais de Bella,
não que eu não me importasse com Bella e com tudo que meu irmão fez com seu
corpo, mas eu sentia uma dor fodida quando me lembrava que os pais dela tinham
ido, Bella não tinha ninguém para receber conselhos ou conversar. Sabia que
Alice tinha tomado o posto de mãe, mas nada era comparado a uma mãe de verdade.
“Edward,
pare de chorar, você está me assustando.” Minha mãe secou meu rosto
úmido, engoli o choro, literalmente.
“Sebastian
matou os pais dela, mãe!” O soluço deixou a declaração cortada, meu
coração já batia na boca, minha cabeça rodava um pouquinho também.
Primeiro eu
vi o tom escarlate cobrindo o rosto de meus pais, aquilo era raiva. Depois,
minha mãe agarrou-se ao meu pai e chorou no ombro coberto pela camisa verde. Eu
me assustei quando vi meu pai chorando timidamente, era um sinal que a situação
estava fora de controle.
Talvez já
estivesse muito óbvio, mas ainda merecia ser registrado. Remexi minha
cabeça no colo de minha mãe, eu queria terminar rápido com aquilo. “Ele se
matou na frente de Bella.”
Os dois
soltaram uma respiração pesada, eu via nos olhos dos dois, eles me escondiam
alguma coisa, eu poderia arriscar e dizer que eles queriam me proteger dessa
tal coisa.
“Onde você
entra nessa história?” Esme perguntou depois de secar suas lágrimas.
Meu corpo
tremeu, a carta já estava amassada em minha mão. Sem olhar, abri minha
mão, o papel estava completamente destruído, mas eu sabia que as palavras ainda
estavam ali.
“O que é
isso, filho?” Meu pai perguntou e pegou a carta.
Sentei-me
na cama, minhas costas encostadas na cabeceira e cabeça tendendo levemente para
a esquerda. “Eu encontrei quando fui pegar as coisas de Sebastian em
Nova Iorque.”
Meu pai
desdobrou cuidadosamente, suas mãos tremiam a cada gesto. Os olhos de
Esme não saiam das palavras que eram relevadas aos poucos.
Carlisle
ergueu o papel para que os dois lessem juntos, eu não conseguia prestar atenção
nas reações dos dois, minha cabeça estava em parafuso. Os pensamentos
desconexos vinham e iam com uma velocidade absurda.
Fechei meus
olhos enquanto meus pais liam, eu estava tão envergonhado, me sentido o pior
dos homens. Eu tentei expulsar os pensamentos ruins que me assolavam,
talvez eu merecesse a morte. Era isso, eu tinha que morrer, desse jeito eu
pararia de estragar a vida de todos que me amavam.
“Edward,
como você pode acreditar nessa carta, nessas palavras?” Meu pai
perguntou de um jeito duro, impassível.
“Ele é o
meu irmão, oras!” Falei e deixei escapar um sorriso debochado.
Esme tomou
a carta das mãos de meu pai. “Edward, isso é ridículo. Eu não posso
acreditar que você acreditou nisto.”
Eu não
estava com raiva, mas eu estava prestes a explodir. Eu precisava saber
que raios existia entre meus pais e Sebastian. “Pai, por favor, me fale o que
há de errado com meu irmão.”
Acredito
que eles não me ignoraram, mas não me responderam. Minha mãe leu
novamente a carta, eu via seus olhos endurecendo a cada linha.
“Edward, leia esta carta!” Esme jogou o papel para mim, não
precisava relê-la, eu já conhecia todas as letras escritas naquele papel.
“Diga-me
Edward, mostre-me em que parte seu irmão diz que sente nossa falta, cadê um
pedido de desculpas por ter sumido sem deixar pistas, mostre-me as palavras
doces, onde está falando que ele nos ama?” Minha mãe disse chorando e
quase gritando. Eu via de tudo nos olhos dela.
Eu estava
completamente sem ação, a obviedade fez-me sentir o último dos tolos. Eu
era tão cego assim? Quando a realidade me assolou, minha cabeça bateu contra a
cabeceira. Eu não poderia acreditar.
As mãos de
Esme não tremiam, elas seguravam a carta firmemente. Ela me deu a carta
ainda entre soluços. “Leia, Edward.”
Corri meus
olhos pela carta, sendo completamente analítico. E então eu percebi que
eu tinha feito tudo errado, não existia o mínimo de sentimento naquela carta,
nenhuma palavra bonita. Nenhum um gesto que representava o amor que ele sentia
pela família que o acolheu. Minhas
piscadelas fizeram as lágrimas descerem por meu rosto. Era como se sentir
enganado, vivendo uma mentira. Preocupando-me com alguém que não merecia
nada. Simplesmente nada.
Lembrei-me,
então, de Bella. De todas as vezes que eu gritei, que a deixei com medo,
as vezes que pensei que ela estava mentindo. Ele sempre disse a verdade,
sempre. Meus músculos tencionaram quando calculei o mal que eu tinha feito a
ela. A distância, a indiferença. Lembrei que eu nunca estava perto quando ela
precisava de mim. Eu estava fugindo. Sempre.
“Mãe, por
que ele fez isso conosco, por quê?” Perguntei meio exasperado, eu
precisava de respostas.
“Edward, me
responda apenas uma coisa, sim?” Minha mãe segurou o olhar no meu.
Não disse
nada, esperei pela pergunta. “Você realmente ama aquele menina, não
ama?” Esme disse sorrindo. “Qual é a intensidade?”
Não vi
fundamento na pergunta, mas não pensei para responder. “Amo muito, muito
mesmo! É diferente, não do jeito que eu amo você e Carlisle, mas ainda assim é
muito forte. Eu quero tê-la para sempre comigo, passar pelos problemas juntos,
ter tudo com ela.”
Antes que
eu terminasse, meus pais se olharam, passaria despercebido por qualquer um, mas
não por mim, eu vi os dois assentindo sobre um assunto desconhecido. Eles
me olharam, era um misto de alívio e apreensão.
“Nós
precisamos lhe mostrar algo.” Meu pai disse calmamente, embora seu
semblante fosse de alguém visivelmente nervoso.
Eu tinha
algumas perguntas, mas não deu tempo para eu fazê-las. Meu pai saiu do
quarto, ainda assim eu ouvia os passos rápidos no corredor. Esme permaneceu
ilegível ao meu lado. O
silêncio não incomodava. Meu pai voltou repentinamente, assustei ao ver um
envelope em suas mãos. Ele apenas passou o envelope para mim. Eu não
sabia o que fazer com ele.
“Edward?” Minha mãe chamou ao meu lado, eu não gostava do
olhar que ela me dava.
“Você
talvez fique com raiva, mas temos um motivo para só estarmos fazendo isto
agora.” Carlisle disse ao invés de minha mãe. Ele tinha a mão sobre a de
Esme.
“Leia.” Minha mãe disse quase inaudível.
Meus dedos
vacilaram ao abrir o envelope, o papel era grosso e eu odiava cortes por causa
de papel. Dentro, um papel de carta estava perfeitamente dobrado. O tremor ruim
correu minha espinha, eu tinha medo que ler o que continha naquela carta. Mais
uma. Lentamente, abri o papel azul. Meu corpo chicoteou quando eu reconheci a
letra.
Esme e Carlisle,
A melhor sensação do
mundo é poder não lhes chamar de pai e mãe, afinal vocês nunca foram minha
família. Nunca mesmo, não importa o quanto vocês se dedicaram, vocês nunca
seriam meus pais. Na verdade, eu me
cansei dessa vidinha medíocre que vocês me ofereceram. Uma vidinha bem
mais ou menos. Carlisle se contentando com aquele emprego de professor e Esme
ganhando nada como decoradora, até quando vocês acreditavam que eu aguentaria?
Já estou longe, sem
planos para voltar. Melhor, eu nunca quero lhes ver novamente. Eu vou
seguir minha vida, fazer o que eu bem entender. Eu nunca fiz parte dessa
família patética.
Acreditem, eu tenho um pouco de coração, então não mostrem isto a
Edward. Coitado, eu tenho medo das reações que poderia ter. Chorar como um
menino idiota? Ou engolir o choro? Meu irmão absurdamente patético! Edward
deveria saber que eu me cansei de ser o irmão exemplo, cansei de fingir que ele
era um cara legal, aliás, não existe ninguém mais idiota que ele. Alguém que se
arrisca para salvar vida de desconhecidos. Absurdamente patético!
Vocês poderiam ter me
dado um irmão melhor, mas nem isso conseguiram. Edward e toda sua
vontade de salvar vidas, talvez ele devesse saber que o pequeno insuportável
Tedy sofreu bastante antes de morrer, que cada golpe representara cada latido
infernal.
Eu queria ver a cara
dele quando ele ler isto, seria engraçado, no mínimo. Ele estaria
chorando ou nervoso? Eu realmente espero que ele nunca leia isto, eu não quero
estragar minha representação de irmão perfeito.
Sebastian
A carta
estava datada, exatamente no dia que ele saiu de casa. Eu nunca me
esqueceria daquele dia. Míseros fodidos quatros anos se passaram para, agora,
descobrir que tudo que eu acreditei não se passava de uma mentira. Um teatro. Eu não estava chorando,
tão pouco, engolido o choro. Eu estava vazio, assim como qualquer parte
de mim. Eu não sentia nada,
absolutamente nada. Deus era fodidamente sábio. Meu corpo estava paralisado,
completamente anestesiado. E, se eu não estivesse dessa forma, eu estaria
sentindo dor. A pior dor do mundo. Aquilo era o inferno.
Deixei meus
olhos vagarem pelo papel novamente, eu estava odiando cada palavra que eu lia,
aquilo não era sobre mim. Eu odiava o jeito que ele se referiria aos meus pais,
as melhores pessoas do mundo, as duas pessoas por quem eu morreria e mataria. Eu
via Esme e Carlisle me analisando, eles queriam alguma reação. Repassei todas
as informações que eu tinha, elas faziam todo sentido, elas se completavam.
“Por que
você não me mostrou isso antes?” Perguntei com a voz falha. “Afinal, quando
vocês encontram essa carta?”
Minha mãe
puxou uma respiração pesada, meu pai fez o mesmo. Minha mãe me deu um olhar
apologético antes de começar.
“Foi logo
depois de ele ter ido embora, estava entre algumas coisas que ele deixou para
trás.” Esme disse sem tirar os olhos dos meus. “Edward, eu te conheço, você
sempre o amou, ele era seu herói, eu tinha medo de você fazer uma besteira.”
As palavras
foram calmas, eu sabia o que tinha por de trás daquela fala. Então pensei em
como eles conseguiram viver com aquilo, ninguém merecia aquelas palavras,
principalmente, ditas por um filho.
“É por isso
toda aquela indiferença?” Perguntei apenas para confirmar.
“Edward,
você sabe que eu nunca fiz diferenciação entre vocês, eu sempre o amei como
filho, mas eu odeio ingratidão.” Esme disse quase envergonhado pela confissão,
Carlisle tinha o mesmo semblante.
“Eu acho
que posso entender.” Falei sem vontade, minha cabeça voltou a entrar em
parafuso, eu ainda não estava acreditando naquela situação.
“Vocês
nunca iriam me mostrar?” Falei e senti as mãos de minha mãe correndo por minha
bochecha.
“Edward,
você é teimoso! Se fosse anos atrás, você falaria que essa carta é uma farsa,
você o amava demais para acreditar nessas palavras.” Minha mãe disse docemente,
era um som apaziguador.
“Eu consigo
acreditar nessas palavras agora...” Soltei e aconcheguei meu rosto na mão
delicada.
“Você ama
outra pessoa agora!” Esme sorriu. “Não que seu amor foi substituído, mas, pelo
menos, agora você sabe quem seu irmão foi.”
Eu não
queria medir o que eu estava sentindo naquele momento, o vazio ainda persistia.
Eu tinha medo sobre o que poderia acontecer quando eu voltasse a pensar
coerentemente.
“Eu amo
vocês, sim?” Falei com mais energia, meus pais sorriram. “Mais que tudo!”
“Nós
sabemos, Edward!” Carlisle veio para me abraçar.
Minha
cabeça poderia ser classificada como um tumulto, Bella sempre aparecia. Meu
coração doeu quando me lembrei dela. Eu tinha a machucado tanto.
“Eu acho
que fiz o que Sebastian tanto queria.” O nome saiu com uma entonação estranha.
Esme arqueou
a sobrancelha em curiosidade, dei seqüência então. “A carta pedia para eu
quebrar o coração dela, acho que eu fiz pior.”
“Não foi
consciente, Edward. Você precisa concertar o estrago que fez.” Minha mãe disse
docemente, eu sabia que aquilo seria difícil.
“Eu não
entendo o porquê dele ter feito isso com ela, esse pedido...” Coloquei
vagamente, eu ainda procurava as respostas.
“Se ele fez
isso com a própria família, não me surpreende o que ele fez com Bella.” Ela
disse meio nervosa. “Eu estou tão envergonhada.”
“Por que,
mãe?” Perguntei por reflexo.
“Edward, eu
criei vocês para serem homens dignos, honrados. Eu preciso saber o onde foi que
errei com Sebastian, quando ele começou a ser tornar esse monstro.” Esme não
chorou, embora os olhos denunciassem um pouco de umidade.
“A culpa
não é sua mãe, não é de ninguém!” Falei para tirar aquele incomodo dela. “Ele
era doente, sádico, psicopata, sei lá.”
“Você
precisa voltar para Bella!” Minha mãe disse antes de sair da cama. “Você tem
contar toda a verdade para ela.”
“Eu não vou
conseguir mãe, eu sei que não.” Falei e afundei minha cabeça no travesseiro.
“Você vai
ter que conseguir, Edward.” A voz veio puramente cheia de certeza. “Bella
merece a verdade.”
Eu não
respondi, eu me conhecia o suficiente para saber que eu não conseguiria dizer a
Bella que eu era o irmão do cara que destruiu toda sua vida.
“Você vai
ficar bem, Edward?” Minha mãe disse perto da porta, pronta para sair.
“Eu vou.”
Eu não tinha certeza nenhuma.
Antes de
rolar para o lado, peguei as duas cartas e guardei-as em minha mochila. As duas
malditas cartas. Em algum momento da manhã voltei a dormir. Eu ainda gostava de
meu pequeno refúgio, embora ele fosse apenas momentâneo.
POV Esme
Eu conhecia
meu filho, eu sabia interpretar cada reação. E todas as esboçadas pela manhã
diziam que ele ainda não tinha percebido o quão grande era a situação que ele
se encontrava. Eu me via nos olhos de Carlisle, neles eu via a apreensão, o
medo, a sensação de estar fazendo tudo errado. O tempo tinha sido benéfico, eu
conseguia lê-lo apenas com um olhar. Carlisle permaneceu calado ao meu lado,
nós esperávamos qualquer barulho suspeito oriundo do andar de cima. Dó era uns
dos sentimentos que eu não gostava. Não era bom senti pena das pessoas, mas era
exatamente assim que eu me sentia. Eu estava do dó de Edward, a vida pregava
peça e ela estava sendo demasiada rude com meu filho.
A vida
estava sendo rude com todos nós. Eu tinha aprendido não pensar em Sebastian, o
primeiro dia foi o pior de todos, era um vazio sem igual. Ver Edward perdido
dentro dessa casa, Carl sem saber o que fazer. E, quando eu encontrei aquela
carta, aprendi que nem sempre existirá mutualidade, reciprocidade. Eu tinha
feito tudo por ele, mas ele escolheu não fazer nada por nós. E quando ele
morreu, meu coração acalmou. Ele não faria mais ninguém sofrer. Eu estava
enganada sobre a última parte.
“Vou fazer
alguma coisa para ele comer.” Falei e segui para a cozinha, Carlisle veio atrás
de mim.
Preparei
tudo que Edward gostava, café, suco de laranja, bacon, ovos, panquecas. Não me
importei com o teor calórico que aquilo tinha. Movi para pegar uma bandeja,
sorri quando a encontrei nas mãos de Carlisle.
“Quer vir
comigo?” Propus enquanto me dirigia para o primeiro degrau da escada.
“Eu vou
limpar a bagunça que você fez!” Ele disse sorrindo, mas não foi o suficiente
para formar as ruguinhas nos cantos dos olhos.
Subi os
degraus calmamente, preocupada em não derramar as bebidas. O corredor tinha as
lâmpadas acesas. A porta do quarto de Sebastian estava trancada, tinha tempo
que eu não entrava naquele cômodo, todavia meus planos de mudança ainda estavam
borbulhando. Lembrei-me de quando Edward trouxe Bella para ficar conosco, todas
as perguntas que ele me fez e não pude responder, as fotos tinham sido jogadas
fora. Eu só queria que Edward desvinculasse da imagem do irmão, praticar o
desapego. Era engraçado como as coisas aconteciam, não tinha as fotos e Bella
veio nos visitar, meu time nunca fora tão bom. Tentei não pensar na reação de
Bella quando ela descobrir toda a verdade, eu não queria mais sofrimento, não
por agora.
Antes de
abrir da porta do quarto de Edward, meus pensamentos vagaram para ele e Bella.
Não existia casal mais bonito que eles, eu tinha plena consciência que eles não
sabiam dessa parte. Bella era perfeita para o meu filho, eu amava aquela menina
como uma filha, era estranho, no entanto. Era fácil imaginar meus netos, eles
seriam lindos com certeza. Talvez uma garotinha de olhos marrons, ou um
garotinho de cabelos dourados. Um casal de gêmeos seria o ideal.
Meu sorriso
se esvaiu quando eu abri a porta, toda recente felicidade foi pelo ralo quando
eu vi Edward no meio do quarto com aquela arma apontada para a própria cabeça. Um
pequeno filme passou por minha cabeça, tudo que Edward tinha acabado de
descobrir, o suicídio de Sebastian. Eu não poderia estar vendo aquilo. Era a
visão do inferno.
“Edward!”
Eu gritei antes de jogar a bandeja no chão, os passos de Carlisle foram ouvidos
também.
Meu filho
permaneceu imóvel, ainda com aquela arma nas mãos. Edward tinha um olhar vago,
ele parecia sem pensamentos. Eu não gostava daquilo, eu odiava aquilo.
“Não faça
isso, por favor!” Tentei manter a calma, mas era impossível. Permaneci onde eu
estava, nenhum passo para frente ou para trás.
Sem eu
perceber, Carlisle se posicionou atrás de mim. Ele soltou uma respiração pesada
quando viu a cena lamentável.
“Edward,
solte essa arma agora.” Carlisle pediu firme, mas eu sentia o desespero em sua
fala.
O silêncio
de Edwar me deixava em pânico. Segurei o olhar dele, ele deveria entender que
não se pode fazer aquilo com uma mãe.
“Eu não
mereço ninguém, mãe.” A voz cortou o silêncio, a entonação era fria e seca.
Vazia.
Concentrei-me
nas mãos de Edward, ele não poderia fazer aquilo comigo. Eu não poderia perder
mais um filho. O gatilho moveu-se minimamente e eu então eu decidi que eu não
poderia deixar Edward fazer aquilo, eu não iria perder mais um filho. Usando
uma velocidade que eu desconhecia, fiz com que Edward largasse aquela arma, ela
caiu em qualquer lugar. Sem saber como, joguei o corpo de Edward contra a cama,
ele relutou e se debateu, mal vi Carlisle o imobilizando pelas mãos.
“Edward, me
escute!” Eu gritei lutando contra as lágrimas. “Você não é igual a ele, você
não é louco!”
“Eu sou
pior mãe, eu sou um monstro! Bella vai me odiar!” Ele também gritou e chorou,
eu sabia que ele precisava se livrar daquilo de algum jeito.
“Fiz tanto
mal a ela, Bella precisa de alguém melhor que eu!” Edward disse sem fôlego,
quando ele relaxou na cama, Carlisle soltou suas mãos.
“Edward,
promete para mim e para seu pai que nunca mais vai fazer isso, por favor!”
Falei antes de afagar-lhe na bochecha. “Eu não admito te perder desse jeito.”
As lágrimas
de Edward desceram mais rápidas, eu não gostava daquela falta de certeza.
“Edward, faça isso por Bella, ela precisa de você.”
O nome o
fez chorar ainda mais, embora um brilho novo dançasse nos olhos verdes. “Por
favor, Edward?” Falei por fim.
À medida
que Edward ia acamando, o sono o aplacava novamente. Quando ele dormiu
soluçando, deixei meu corpo cair ao lado do dele. Permiti-me não dormir, velei
o sono perturbado de Edward, eu queria desfazer todas as ruguinhas que
estragavam o rosto bonito. Carlisle permaneceu imóvel na ponta da cama, fiz
sinal para que ele viesse para mais perto, ele não relutou.
“Eu vou
jogar essa arma fora.” Ele disse baixinho, completamente culpado.
“Apenas
guarde-a em um lugar não tão óbvio.” Falei e me movi para pegar sua mão. “É
melhor tirarmos as bebidas de Edward daqui, ele está meio vulnerável.”
Carlisle
entendeu meu ponto. Edward nãos sabia esconder nada, desde quando ele tinha
dezesseis eu sabia que guardava as garrafas na parte de cima do armário.
Carlisle as desceu e as esvaziou no banheiro, depois ele puxou a primeira
gaveta do criado. O pequeno saquinho com uma quantidade mínima de maconha
estava no fundo da gaveta, eu também sabia daquela parte. Lembrei-me de quando
Edward disse que tinha fumado, uns três anos atrás, eu não poderia
crucificá-lo, eu já tinha feito as mesmas coisas. Carlisle apenas colocou o
saquinho dentro do armário, eu tinha certeza que Edward não iria procurar
aquele tipo de escape.
Horas mais
tarde, movi-me para fora da cama sendo seguida por Carlisle. Quando passei pela
porta, gravei a imagem de meu filho dormindo. Fiquei feliz quando não vi as
ruguinhas de preocupação no rosto bonito.
POV Edward
Eu tinha a
impressão que os dias passavam mais depressa em Chicago, já fazia seis dias que
eu estava com meus pais, seis dias completamente tristes. Calculei mentalmente
o quanto tinha sido descontado em meu salário, seis dias correspondiam a uma
boa quantia, pensei sobre ligar e explicar meu sumiço, mas decidi não fazê-lo.
Minha cama
não tinha tanta graça, meu quarto estava escuro por causa do blackout na
janela, mas já se passava das três da tarde. Minhas roupas estavam grudadas em
meu corpo e eu me recusava a tomar banho. Minha mãe vinha me ver, ela
perguntava se eu precisava de alguma coisa e eu sempre respondia que precisava
ficar sozinho. Rolei no colchão para
clarear as idéias, meus pensamentos rondavam Bella, eu precisava encontrar uma
maneira em dizer a verdade para ela, dizer que eu era irmão de Sebastian e até
explicar sobre a carta, mas minhas idéias não pareciam plausíveis. Todas
elas terminavam com Bella chorando, ainda mais machucada.
Eu queria
um novo começo com ela, fazer tudo certo. Fazê-la ter orgulho de mim do
mesmo modo que eu me orgulhava dela. Um namoro saudável, passar algumas noites juntos e, em outras, apenas
conversar sobre nossos dias. Acordá-la com beijos e cócegas e manhã após manhã
repeti as palavras mais doces do mundo. Eu te amo, Bella.
A porta de
meu quarto rangeu baixinho, Esme sorriu antes de entrar. “Milagre te encontrar
acordado!”
Ela
sentou-se ao meu lado e correu os dedos por meu cabelo oleoso. Depois, ela
dedilhou a parte abaixo de meus olhos.
“Seus olhos
estão fundos e você emagreceu muito.” Ela disse com pesar, a verdade era que eu
vivia chorando e quase não tinha comido.
“Vou tomar
banho.” Falei antes que minha mãe continuasse.
Tomei um
banho demorado, a água quente me fazia bem. Quando voltei para o quarto não
encontrei nenhum vislumbre de Esme. Procurei no armário uma bermuda, minhas
opções de roupas estavam acabando, me contentei em vestir um calção de banho e
ficar sem camisa. Era a segunda vez naquele período de tempo que eu descia para
a sala. Os olhos de meu pai saltaram quando ele me viu.
“Você está
horrível, Edward!” Meu pai disse surpreso, perguntei-me se era sobre meu físico
esquelético ou sobre minha bermuda de listrinhas.
Segui para
os fundos da casa, minha mãe olhava alguma coisa em seu jardim, meus olhos
brilharam quando vi a piscina cheia. Aquilo parecia uma ótima ideia. Agradeci
minha escolha de bermuda, quando eu estava a um segundo me pular dentro d’água,
minha mãe berrou meu nome. Olhei para trás assustado, pensando o pior.
“O que
aconteceu, mãe?” Perguntei realmente confuso.
Minha mãe
me olhou envergonhada, eu procurei um bom motivo para aquilo. Olhei novamente
para minha mãe e depois para a piscina. E então eu ri, coisa que eu não fazia
há um bom tempo.
“Mãe, eu
não estou tentando me matar, aliás, eu nado bem pra caralho!” Eu não gostava de
usar meu humor negro, mas aquele era o único que eu tinha naquele momento.
“Eu ainda
estou assustada, Edward!” Esme disse alto ainda analisando as flores.
Aquilo me
fazia sentir culpado, eu não sabia o que tinha dado em mim para fazer aquela
burrice, não fazia sentido acabar com minha vida.
“Desculpe
por aquilo, por favor?” Pedi também alto e, principalmente, sincero.
“Sempre.”
Minha mãe disse acompanhada de um sorriso aberto.
Eu cai
dentro d’água logo depois, eu gostava daquela piscina. Ela me lembrava Bella e
seus beijos quentes, seus gemidos baixos. Expulsei os pensamentos bons, eu não
precisava de uma ereção naquele momento, não com minha mãe tão perto. Nadar me
deixava meio exaurido, mas era bom. Meus braços pediram folga quando terminei
meu décimo quinto ciclo, o sol causava um reflexo bonito. Minha mãe já não
estava em meu campo de visão.
Encarei a
piscina, ela tinha me dado bons momentos e eu queria mais deles, com Bella, de
preferência. Decidi que eu deveria lutar por nós dois, eu correria atrás de
Bella, eu me humilharia por aquela menina. Eu daria o mundo para ela, eu daria
o meu mundo para ela. Eu não me preocupava se seria árduo ou não, mas eu iria
até o fim. Não existia outra possibilidade, eu lutaria por nós. Eu ainda estava
quebrado, mas eu poderia juntar os cacos e tentar de novo.
Porque eu estou
acabado
Me acalme
Me cale
Eu vou me acalmar
E vou me entender com
você
Continua...
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