O filme The Rover (cuja tradução literal seria "o vagabundo", "o pirata" ou "o corsário") até quase o seu final, ou até o final, parece um filme sem sentido. Ou sem objetivos. Mas concluo, depois, que não é.
Se alguns brasileiros provincianos ainda acreditam que somos - o Brasil e a América Latina - a escória do mundo, é bom tomar consciência de que isso já não é mais assim. Com o desmoronamento econômico-social da Europa (sobretudo da Espanha, da Grécia e até da Itália), sobraram para eles belos prédios e monumentos. Economia, pouca. São tão chinelões quanto nós. Na América do Norte a miséria também bate nos homeless. Então PAREM com essa besteira de bater palmas para estrangeiros pelo simples fato de serem estrangeiros.
Seja como for, em The Rover mostra-se uma Austrália NO FUTURO. Por isso, é impossível não comparar o filme com Mad Max, um clássico para os "véios" da minha idade.
E, como Austrália do futuro, somente lá (no futuro; teoricamente hoje isso não acontece) é que existe uma espécie de "terra sem lei". Mata-se quem quiser; rouba-se impunemente. E aí o paralelo com o Brasil de hoje: estamos caminhando firmemente para esse futuro. Será meio "cada um por si", pois policia será artigo "de luxo". E quase já é assim, aqui no Brasil. Em THE ROVER um policial diz "eu prendo você pensando em mim, pois isso justifica eles nos pagarem o salário. Caso contrário, não haveria necessidade de nós (policiais). Para mim tanto faz se, depois, você é preso, suborna a justiça e sai da prisão, se morre ou se foge".
Alguém DISCORDA de que hoje, no Brasil, a coisa já esteja exatamente assim? Vá registrar uma OCORRÊNCIA numa delegacia. Você acha MESMO que alguém irá investigar porra alguma, especialmente o roubo da sua casa ou de um celular? Sabe de nada, inocente....
Pois é nesse clima que THE ROVER deixa de ser APENAS um filme aonde um cara sai, estrada afora, perseguindo alguém que roubou o seu carro.
Existe alguma coisa, dentro do carro, que faz com que esse cara saia perseguindo os ladrões implacavelmente e sujeitando-se, a todo momento, a morrer pela causa. Se fosse um filme americano (mas é australiano), você imediatamente pensaria que no porta-malas do carro há uma mala cheia de dólares. E por esse costume de assistir a filmes americanos; tão óbvios quanto idiotas, seguirá pensando assim até a ÚLTIMA CENA DO FILME.
O que tem no porta-malas não importa mais; mesmo antes desse final. Porque o que está em jogo é a busca, e a sede, do perseguidor, por alguma espécie de justiça. Uma justiça que diz respeito ao personagem, pessoal. Os ladrões simplesmente roubaram-lhe o carro. E isso; você verá depois, não importa no enredo do filme, que é muito bem escrito. O que importa é que ele quer o carro de volta. E o que tem dentro desse carro, no final, pode até decepcionar ao espectador. Ou mesmo nem importar.
O que está em jogo, de verdade, são a condição e a vida humanas (num suposto FUTURO). E, com elas, o celular roubado dentro do ônibus; o assalto-relâmpago; a policia que não investiga nada; as mortes de bandidos e de inocentes que hoje se banalizaram.
O personagem principal é feito pelo conhecido ator GUY PEARCE; inglês naturalizado australiano, que - normalmente é "galã" - aqui comparece "atirado às traças". Sujo, barbudo, suado (provavelmente fedorento) jamais passa um pente pelos cabelos. E completamente neutro, em relação ao ser humano. Para ele, tanto faz existir mais gente no mundo. Ou não. No final ele até chora, diante de um velho indefeso.
A chamada do filme diz "tenha medo do homem que não tem nada a perder". Mas a frase que eu destaco no filme é "você nunca deve parar de pensar sobre uma vida que você tirou. Este é o preço que você paga por tirá-la.".
O contraponto extraordinário (sim, eu disse extraordinário) ao personagem de Pearce vem de alguém inusitado. O ex-vampiro Edward (da série Crepúsculo): o jovem ator ROBERT PATTINSON, aqui no papel de Rey. Ele é um jovem meio perturbado (o que antigamente chamaríamos de retardado; hoje não se pode mais dizer isso), nervoso e inseguro, cujo irmão é um dos caras que roubaram o carro do primeiro.
Rey foi baleado e; julgado como morto, deixado para trás. Por isso, não perdoa o irmão mais velho, que, na sua cabeça, devia "cuidar" dele. Isso terá consequências, depois. Pattinson, na verdade, foi quem deixou para trás, nesse filme, o vampiro Edward está EXCELENTE no papel de Rey. Ele é uma outra pessoa. Você não o reconheceria. Muito boa atuação. Que continue assim.
Para os românticos e românticas: poucas mulheres no filme (apenas duas). E nenhuma com "papel afetivo" ou em tórridas cenas românticas, apenas coadjuvantes e de passagem. É um filme para machos (ui!).
Mas um bom filme. Meio road movie, com bela fotografia dos desertos e das estradas da imensa (e despovoada) Austrália.
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