Guy Pearce é homem que persegue ladrões que levaram seu carro.
Robert Pattinson interpreta bandido ferido e abandonado pelo irmão.
Em seu segundo longa, “The rover – A caçada”, o australiano David Michôd mostra que a força de seu filme de estreia, “Reino animal” (no Brasil lançado direto em DVD), não foi acidental.
Aqui, ele retrata um futuro distópico, não muito distante do nosso presente, num lugar devastado depois de um colapso econômico que nunca é explicado. Apesar das condições precárias e o calor infernal, é possível sobreviver: há alguns alimentos, combustível e dinheiro, embora o dólar americano seja preferido ao australiano.
Os sobreviventes estão em luta constante, sempre sujos e desesperados. Ainda há militares, que cuidam também da burocracia governamental. Nesse cenário inóspito, o carro de Eric (Guy Pearce) é roubado, dando início a uma perseguição.
Como os ladrões abandonam seu próprio carro, que está funcionando perfeitamente, é de se indagar porque o protagonista não se contenta em ficar com esse veículo, em vez de insistir em recuperar seu carro roubado.
Na estrada, Eric acaba encontrando Rey (Robert Pattinson), um sujeito com limitações intelectuais e irmão de um dos ladrões. Poucas pistas são dadas sobre essa dupla. O rapaz pode ser mais esperto do que parece e se sente traído pelo irmão que o abandonou para trás, ferido.
Quanto a Eric, o que o faz mover nessa busca desesperada? Porque, às vezes, é tão cruel, e, em outros momentos, uma pessoa emotiva? É nessas pontas soltas que “The rover – A caçada” constrói numa atmosfera de suspense constante. Pelo caminho, a dupla cruza com diversas ameaças e poucas personagens femininas.
Michôd revela pouco, elaborando a narrativa sobre minimalismos. Não que esteja escondendo algo, apenas parece estar tentando compreender esse futuro aos poucos – como os próprios espectadores do filme.
Cenários pós-apocalípticos como esse já forneceram a ambientação em produções como a trilogia “Mad Max” e no recente “A estrada” - e, no fundo, são uma releitura de nosso presente.
Seria esse ambiente devastado de “The rover” resultado de alguma crise econômica global? Ou climática? Afinal, a natureza parece estar desequilibrada no filme. O diretor evita explicações, porque, afinal, não importam muito as causas, mas a forma como seus personagens lidam com essa ruptura: e eles o fazem de forma desesperada.
Disse o crítico e teórico norte-americano Fredric Jameson que é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo, e “The rover – A caçada” é uma espécie de materialização desse pensamento.
As relações de compra e venda e acumulação de dinheiro estão presentes ao longo do filme. Mas fica a questão: para que servirão todos os dólares depois que acabarem todos os recursos? Só restará a barbárie? Os personagens e as situações aqui estão a um passo disso.
Todos – desde Eric, passando por Rey, seu irmão e a gangue ou os membros de um circo falido – estão no limite da sobrevivência, até porque, quem sabe se terão um futuro? Se durante boa parte do filme Eric é durão e praticamente nunca sorri, ao final, revela sua humanidade. É como se a história estivesse de algum modo afirmando que é disso que precisamos para atravessar os tempos de crise.
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